Professora ficou cega durante dois meses e perdeu o movimento da perna direita devido à doença
Carla Simone Castro, professora do Instituto Federal de Brasília, estava sofrendo de dores fortes na cabeça e congestão nasal quando decidiu ir a alguns neurologistas. Todos afirmaram que era uma crise de ansiedade, mas, ao convulsionar durante a consulta, um deles percebeu que o problema era mais grave. Carla passou 67 dias no hospital, perdeu os movimentos da perna direita e ainda ficou sem enxergar durante dois meses. O diagnóstico era de uma trombose venosa cerebral, que a professora não entendeu como foi contraída, a princípio, por não fazer parte do grupo de risco que a doença atinge.
Quando saiu da UTI, o médico avisou que a causa era o uso de anticoncepcional. Carla conta que, antes de consumir a medicação, foi a um ginecologista, fez os exames necessários, mas nada a alertou sobre o que poderia acontecer. Ela chegou a ler a bula da medicação, mas nem assim ficou sabendo do perigo. Como não tinha histórico da doença na família, Carla não fazia parte do grupo de risco. Seis meses após começar a tomar a pílula, descobriu que, na verdade, possuía o perfil de trombofilia – condição que deveria ter impedido o consumo da medicação. “Meu risco era duas vezes maior do que uma pessoa comum. Com o remédio, esse número aumentou para 149 vezes”, explica.
Ela passou por uma cirurgia de alto risco e, quando recuperada, entrou em contato com a Anvisa e com o ministério da Saúde. Por não obter resposta, fez um vídeo alertando sobre os riscos do uso da pílula e publicou na internet – medida que a fez perceber que o problema era mais comum do que imaginava. Foi então que ela criou uma página no Facebook denominada “Vítimas de anticoncepcionais. Unidas a favor da Vida”, que reúne relatos de mulheres que passaram por problemas semelhantes ao dela. Entre as reivindicações, essas vítimas pedem que seja um solicitado um exame de sangue que detecte o risco da trombose, para que as portadoras da trombofilia sejam identificadas antes de consumirem o remédio. “Precisam prescrever anticoncepcional com mais critérios”, afirma a professora.
Carla defende que deva existir um maior alerta sobre o que o anticoncepcional pode causar por causa das suas sérias consequências. “É uma situação que você vai carregar para o resto da vida”, diz ela.
Atualmente, a professora vive sob o risco constante de ter um AVC, mas não pode fazer as três cirurgias necessárias, em função do sistema venoso no seu cérebro. Sua vida está voltando ao normal, porém. Ela está trabalhando novamente, não sente dor, mas toma uma medicação que a coloca em risco permanente de ter uma hemorragia. “Perto dos casos que eu vejo, e da extensão da trombose que eu tive, eu estou ótima”, conta.
De acordo com Mariana Halla, ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim, todo anticoncepcional pode causar trombose. As combinadas com estrogênio e progestágenos, no entanto, aumentam esse risco de quatro a oito vezes. Qualquer mulher que tome a pílula está sujeita a contrair a doença, mas existe um perfil específico daquelas que não podem consumir o remédio em nenhuma circunstância. As fumantes acima de 35 anos, por exemplo, estão proibidas de tomar pílula, diz a médica. A obesidade também aumenta a probabilidade de contração, assim como a diabetes, a hipertensão e a enxaqueca crônica. Um jeito de evitar a trombose é praticar exercícios regularmente, “mas a melhor forma de prevenção é mudando de método contraceptivo”, explica a médica.
Mariana afirma que a triagem que detecta esse perfil de trombofilia é cara, por isso, não costuma ser solicitada. “A gente não pode pedir para toda a população, porque encareceria muito e a prevenção é de apenas pouquíssimos casos”, diz. Os ginecologistas só requisitam quando a mulher está dentro desse grupo de risco, tendo histórico de AVC na família, por exemplo. Ela recomenda que a pílula seja evitada nesses casos.
O risco de trombose não é exclusivo das pílulas, porém. Outros tratamentos contraceptivos que utilizem o estrogênio, como anel vaginal e adesivo, também põe em risco a saúde da mulher. O Diu tem sido uma opção, para diminuir essa probabilidade, de acordo com a ginecologista.
Disponível no Portal E+ do Estadão – por Ana Clara Barbosa